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domingo, 17 de janeiro de 2016

Ver e Estar

Oi, crentes ! hehehe
Hoje quem vai "falar" é uma pessoinha querida que conheci ano passado.  É bom ser amigo dos amigos de Deus! E gente assim, é seu amigo a qualquer hora, de qualquer lugar, e de qualquer forma que Ele quiser que seja. Sem cerimônias!
Na primeira conversa com mais de 140 caracteres que a gente teve (rs), falamos tanto sobre propósitos, estabelecer o reino, entender chamado... Mas ela me lembrou de algo que ficou martelando pra sempre: que o lance é simplesmente conhecer a Deus e faze-lo conhecido
E aí passou um tempo, passou uma graça do céu, passou uns quilômetros e hoje o texto 
dela aqui é pra contar da viagem pra África que ela fez a pouco tempo. Então vamos ser gratos porque não tem isso aqui toda hora não... hahaha
Tomara que você termine o texto incomodado por alguma coisa anormal-espiritual-proposital ardendo no teu peito. (Eu quase explodi, mas normal. Tenho uma queda-precipício por coisas assim hehe) 


Ps: Obrigada por compartilhar Jesus, Pri! Aqui, lá, onde quer que seja. Nesse reino a gente caminha junto, e se você foi, Ele foi! Eu fui lembrada por aí, que o que importa é faze-lo conhecido! (; 

Enjoy it !
Eloise Oliveira
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Olá, leitor e leitora!
Não sei muito bem quem é você que vai ler esse texto porque eu não sou daqui. Eu não escrevo pra esse blog e ele não é meu... Isso torna esse texto todo uma aposta meio insegura, mas vem comigo!
Meu nome é Priscila, tenho 26 anos, sou jornalista, moro em Brasília e conheci a Elô pelo twitter (!). Twitter, melhor site! Inclusive, recomendo.
Bom, estou aqui pra compartilhar minha experiência em um trabalho sócio missionário que visitei em dezembro de 2015, na Tanzânia. Quero alertar você que esse relato provavelmente vai variar das minhas impressões sobre o país até algo muito, muito intimista. Eu espero que, apesar disso e de alguma forma, algo aqui possa abençoar seu coração.
Essa é a primeira vez que eu paro pra escrever sobre a África, apesar de vários amigos e até pessoas semi-desconhecidas me pararem no corredor da firma pra perguntar como foi. É difícil falar sobre ela, porque essa viagem envolve muita coisa na minha vida, acho que minha vida toda, na real. Sou grata pela oportunidade de me forçar a juntar essas impressões com descobertas do meu jeito preferido, escrevendo.

Sobre Arusha
Eu passei 15 dias em Arusha, uma cidade de mais de sete milhões de habitantes, no norte da Tanzânia, que fica no leste africano, fronteira com Quênia e Uganda. O idioma oficial do país é o inglês, mas o idioma corrente é o suaíli. A Tanzânia não tem uma história recente de guerra civil, mas só se tornou independente em 1962. Lá, ouvi muita gente comentando como a colonização britânica deixou resultados bem diferentes da portuguesa no continente africano. Parece que a exploração e a desapropriação cultural nos países lusófonos foi bem maior.
O país tem paisagens bem lindas. O pôr do sol da savana é uma das coisas mais bonitas que eu já vi (e olha que eu moro em Brasília, que tem o céu mais azul com as nuvens mais lokas desse Brasil). A região toda é cercada de montanhas, inclusive, o ponto mais alto da África fica lá, o Kilimanjaro Mount, que é um vulcão inativo. A gente fez um safarizinho lá perto e, sim, vimos vários animais imensos e maravilhosos, menos o famigerado leão.
Visitamos uma tribo Massai, lá no meio das montanhas, as pessoas com aquelas roupas coloridas pastoreando uns rebanhos de ovelha e cabra, a vida correndo simples... Eu preferi guardar tudo no coração, mas acabei tirando algumas fotos porque a sociedade nos cobra esse tipo de registro. Dá uma olhada:



Porém, a Tanzânia, como não poderia deixar de ser, me tocou pela sua pobreza também. Minha mãe, que estava no grupo que viajou comigo, comentou quando eu quis chorar: “filha, você vê isso toda semana na Estrutural...”. A Estrutural é uma favela de Brasília que cresceu ao redor do lixão da cidade. A gente tá lá toda semana porque temos um trabalho de arte-educação com crianças de uma escola pública. Ela tá certa, mas eu discordo!
A gente têm miséria aqui, mas fomos empurrando ela pra alguns cantos da cidade. Lá a miséria engoliu a cidade. Arusha é um corredor empoeirado de barracos, sem esgoto e sem luz. À noite, a rua escura parece mais lotada que durante o dia, e as pessoas vendem comidas que elas assam no chão empoeirado desse mesmo corredor, ao lado desse mesmo esgoto, que escorre por onde o carro passa. Também guardei no coração as crianças nadando peladinhas num rio onde todo mundo se encontra: animais bebendo água, mulheres lavando roupa, o lixo escoando. Depois que eu voltei, não jogo mais água fora. Viver sem água é muito doentio.
É claro que em Arusha você vai encontrar, pontualmente, asfalto, água encanada, prédios bonitos e restaurantes caros, porque esse mundo é todo contradição.

Sobre Africa for Jesus
Eu fui pra África em um grupo de seis pessoas da minha igreja, a Comunidade Atos dos Apóstolos: meu pastor, minha mãe e outros amigos. A gente foi pra ficar na base de um ministério que já apoiamos, o Africa for Jesus. É aquela velha história, a gente foi pra dar e saímos de lá com o coração cheio... Eu tava bem preocupada com o que eu poderia oferecer para as pessoas ali, mas segui o conselho de uma amiga soul mate: fui pra ver e estar. E vi e estive intensamente. Meu pastor falou “a Priscila veio com o coração muito vulnerável, então, tudo aqui toca muito ela.” Verdade.
O África para Jesus começou com uma família e é impressionante ver o impacto positivo que esses missionários estão causando naquela comunidade. O projeto começou em Moçambique, onde ficaram algumas igrejas plantadas, mas Deus os levou até a Tanzânia. Eu nem vou conseguir colocar aqui tudo que essa galera faz, além de serem maravilhosos, mas se você quer colaborar com algo, colabore com eles.
Não chegamos a tempo de conhecer as crianças da escola primária que eles têm na base porque o período letivo tinha acabado de terminar, uma pena. Mas vimos a escola, que tá linda! Eles têm um trabalho com órfãos da região, tipo uma escola dominical, a cada 15 dias, e uma reunião com viúvas também.
Aliás, as viúvas... Um capítulo à parte! Foi por causa delas que a gente foi visitar a aldeia Massai, num povoado chamado Engare Naibor. O ministério teve a coragem de distribuir cestas básicas entre viúvas massais. Essa atitude não foi muito bem-vista por uma cultura que oprime bastante as mulheres. O Africa for Jesus está construindo um salão lá pra receber e trabalhar com essas viúvas e outras mulheres que são assistidas por eles.
Eu acho mesmo que as coisas mais marcantes da vida acontecem no topo de um monte porque Engare Naibor pra mim foi... Um pouco da minha própria Nárnia. Acessar essas memórias é voltar pra casa. Quando eu ouvi aquelas viúvas cantando pela primeira vez, parece que eu encontrei meu lugar... Ou quando me mostraram embaixo de quais árvores as igrejas cristãs Massai se reúnem. Ou quando eu visitei uma igreja que tinha parede de barro e chão de pó, no domingo de manhã, e o tambor começou a tocar e as pessoas dançaram juntas uma dança que meus anos de ballet nunca vão me capacitar a dançar.
Ou quando eu e minha líder saímos com as crianças do “prédio” e fomos pra debaixo de uma árvore falar do jeito mais simples e mais profundo que eu já ouvi falar sobre Jesus pras crianças com os olhos mais profundos que eu já vi. Elas ouviram cada palavra traduzida do português pro suaíle e do suaíle pro massai. E repetiram uma oração que fizemos em português (espontaneamente repetiram em português depois de duas traduções). E se encantaram com balões coloridos que a gente levou. Outras crianças que estavam por perto, pastoreando umas ovelhas, deixaram os rebainhos e sentaram em volta, com os mesmos olhos atentos e lindos e profundos, com as roupas coloridas que eu nunca vou esquecer.
Eles adoravam tirar fotos e depois se ver, como a gente mesmo. Tudo como a gente. Paixões, casamentos, luto, nascimentos, alegria, sofrimento, fé, dominação. Nossa humanidade nunca me pareceu tão comum. E quando eles deixaram a gente entrar nas suas casas, sem janelas pros animais não atacarem a família enquanto dormem, eu não senti dó pelo sufoco. Eu só senti empatia.
Claro que a gente tem um monte de diferenças culturais, mas teve um dia que a gente tava comendo churrasco de carneiro embaixo de uma árvore no meio do acampamento (eu adoro essas coisas de barraca e céu estrelado) e fui brincar com os missionários de cup song, o Samuka tava lá no meio, um tanzaniano, e a gente se entendeu perfeito. Foi aí que eu percebi: somos só jovens, cheios de lutas e anseios, e sempre vai ser massa quando estamos juntos. Sabe?
É impressionante como você fica amigo de infância de gente que você come churrasco de carneiro embaixo de árvore... É impressionante como você fica amigo de gente num trabalho missionário porque lá é tudo muito intenso! O que a gente dividiu ali... Bom, prometemos que ficaria ali!
Eu fiz questão de falar dessa empatia – esse sei lá o quê em comum, humano-divino que a gente divide – em um congresso de jovens que a gente participou lá. Falei sobre como isso faz o Cristianismo funcionar em qualquer cultura e em qualquer época, porque ele é sobre o mais básico da nossa humanidade comum. Ele é sobre compartilhar um só Deus, um só Espírito, um só batismo e uma só fé, acima dos nossos muros.
O Seminário reuniu uns 300 jovens, da cidade e das aldeias. Fomos pra Tanzânia, principalmente, pra participar dele. Meu pastor abalou as estruturas africanas com suas pregações lindas e eu tive a oportunidade de compartilhar uma palavra também. Foi bem significativo ser a única jovem e mulher a falar. Já falei, mas... É difícil ser mulher lá. Se pode ser desconfortável ter 26 anos e ser solteira no Brasil, imagine na África.
Quando terminei a palavra, o fofo do pastor Good Luck, nosso tradutor massai com o português mais perfeito que um estrangeiro pode ter, pediu que todas as meninas que estavam presentes ficassem em pé e olhassem pra mim. Ele disse: vocês estão vendo a Priscila? Ela é jovem como vocês, ela é solteira como vocês, e olha o que ela pode fazer! Olha pra ela e fala: eu também posso!
Outra fotografia da vida que guardei no coração.
Uma nota sobre pastores da Tanzânia, Quênia e Sudão que conheci: parecem Jesus.





Sobre chamado
Se você chegou até aqui é porque ou é muito meu amigo ou é bem interessado em missões. Bom, então, vou tentar falar sobre como fui parar na Tanzânia porque acho que é o que a Elô queria saber desde o início.
Entender qual é nosso lugar no mundo é algo bem difícil, pelo menos pra mim. Mas acredito que não embarquei sozinha nesse carrossel porque a gente vive na geração das possibilidades. E múltiplas possibilidades significam muitas escolhas difíceis. Tenho a impressão de que a gente é preparado pra desenvolver potenciais, mas não pra escolher caminhos.
Se você quer viver tudo e só abrir portas, mas tá vendo a vida passar e parece que, na verdade, tá vivendo menos do que devia (embora nem consiga entender direito o que é isso tudo que você devia viver): vem cá, me dá a mão! Adicione a isso a fé em um Deus que tem planos e vontades a nosso respeito e as coisas vão ficar bastante estranhas. Então, essa aí é minha cabeça todos os dias da minha vida... Se você é mais novo do que eu, com muita fé em Jesus, eu desejo que você encontre respostas antes dos 26.
O lance é que hoje está cada vez mais crescendo, na Igreja brasileira, a visão de que se você quer servir a Deus de todo seu coração e responder ao famoso “ide” (o que todo cristão devia querer), você não necessariamente precisa se considerar um vocacionado para um ministério eclesiástico. Isso quer dizer que você pode ser vocacionado pra ocupar um outro lugar na sociedade e estabelecer o Reino ali mesmo, não só alcançando as pessoas daquela área de atuação, mas tocando a realidade social por meio da sua profissão.
Isso é lindo e eu acredito muito, embora sempre ache que ~propósito de Deus~ é algo bem maior e bem mais simples que carreira profissional. Passa por aí também, mas tem mais a ver com conhecer a Deus e fazê-lo conhecido.  
Porém, a meu ver, isso leva a gente a um novo conflito (eba!): dentre todas as possibilidades de encaixe social, Deus pode estar te chamando pra ficar na sua cidade mesmo e resolver esse ou aquele problema. Há uns 30 anos atrás, não era assim. Tinha um jovem que era muito loko e sentia um chamado arder no seu coração, todo mundo já ia logo saber que era pra mandar ele pra um seminário ou uma escola de missões, ou logo pro campo.
E minha vida sempre foi de certezas sobre um chamado missionário mais forte que eu. Há muito tempo que estou na espera pelo dia que eu pisaria no campo. Mas eu fui crescendo, o tempo foi passando – algumas vezes me perdendo, Deus sempre me encontrando – e eu fui enxergando outras possibilidades nesse mundo, e aí... Cheguei aqui! Vim embora da Tanzânia chorando muito e voltei pro trabalho com essa angústia crescendo (acho que tem que ser assim mesmo, até que ela me impulsione pro lugar certo).
Eu ainda tenho certeza desse chamado mais forte que eu. Mas em uma capital imensa ou em uma aldeia? No Brasil ou em outro país? E qual? E fazendo o quê? Sendo jornalista? Sendo escritora? Fazendo filme? Contando história pra criança? Estudando ou morando em uma base? Largo meu emprego ou fico aqui de boa? Tá entendendo? Não é fácil. As necessidades estão por toda parte e, sim, Jesus está às portas.
E é aqui que eu me volto pro propósito, que está acima dos caminhos que a gente percorre nele. Conhecer a Deus, fazê-lo conhecido. Ver e estar. Se eu puder esconder meu coração nessa simples dinâmica eu creio, e só tenho como crer diante do que já vivi, que o Caminho vai me soprar a direção. E a vida não vai escapar.

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